O florescimento de protestos no Brasil marca um período de transição em uma juventude que vinha sendo uma das mais politicamente desengajadas da América Latina, mas não parece constituir uma grande ameaça à governabilidade ou aos partidos políticos estabelecidos, segundo reportagem da agência Reuters publicada nesta quarta-feira (19).
Os protestos, que reuniram cerca de 200 mil brasileiros em demonstrações em dezenas de cidades na segunda-feira (17), não devem ser encerrados tão cedo. Seus apelos, que incluem a oposição à corrupção e aos recentes aumentos da tarifa de transporte, atingiram praticamente todos os brasileiros com alguma queixa – e há muitos problemas para serem abordados.
Com isso, por enquanto, os protestos parecem ter muito mais semelhança, em termos de motivos, demografia e resultados, com o “Occupy Wall Street” – realizado emNova York – do que com a Revolta Árabe – ocorrido em países árabes essencialmente contra governos opressores.
A Bloomberg também cita as semelhanças com o movimento “Occupy Wall Street”. Ambos foram iniciados a partir de um descontentamento entre a classe média, e com demandas específicas – a tarifa do transporte no Brasil e os excessos de Wall Street na crise financeira nos EUA. Logo depois, ambos passaram a tratar de diversas reivindicações. Nos EUA, tudo entre o custo da saúde até a política entre palestinos e israelenses. No Brasil, inclui também saúde, assim como a educação, crime, corrupção e os gastos públicos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Parcela da população
As manifestações são um claro sinal do descontentamento existente em uma parcela da população que é em média mais rica e educada que a média dos brasileiros.
As manifestações são um claro sinal do descontentamento existente em uma parcela da população que é em média mais rica e educada que a média dos brasileiros.
Os protestos se espalharam rapidamente e sua novidade também é importante, já que o Brasil não tem um histórico recente de manifestações políticas, como na Argentina, Venezuela e até o Chile. O uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha por policiais inexperientes no controle da multidão levou ainda mais manifestantes às ruas.
Deste modo, os protestos se tornaram um fenômeno nacional, levando políticos a realizarem concessões, como a diminuição de tarifas no Rio e em São Paulo.
Ainda assim, os atos devem continuar, e podem crescer em número, afetando a vida cotidiana no país por alguns meses. Os protestos também podem adicionar a sensação de que o Brasil, após uma década em que tudo pareceu correr bem, começou a se incomodar com a inflação crescente, o crime e a desigualdade social.
Mas o movimento não é notável apenas por isso. Diferentemente do que aconteceu no mundo árabe nos últimos anos e na Turquia recentemente, os manifestantes não têm como alvo um líder específico, ou até mesmo o governo federal.
Não é a Europa
Mas os números não são tão grandes quando parecem quando vistos por estrangeiros, principalmente considerando o tamanho do Brasil.
Mas os números não são tão grandes quando parecem quando vistos por estrangeiros, principalmente considerando o tamanho do Brasil.
Para efeito de comparação, a mobilização de segunda-feira reuniu cerca de 0,1% da população.
O movimento também não é um sinal massivo de descontentamento com a economia, no estilo dos protestos europeus e árabes. Diferentemente dos países onde os protestos ou movimentos sociais alternativos cresceram o suficiente para afetar a ordem estabelecida, o Brasil não tem um problema crônico de desemprego entre os jovens ou entre a população em geral.
Fonte: G1
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